domingo, 12 de setembro de 2010

Kant: A dessubstancialização do corpo e da alma

Do ponto de vista dos grandes pensadores da história da filosofia, o alemão Immanuel Kant (1724-1804) se situa na fronteira de uma nova época. Crítica da Razão Pura de 1781. Kant analisa o conceito de corpo tanto em seu aspecto físico quanto fenomenal. Por um lado, a noção de corpo físico deve ter uma conotação científica natural que envolve todos os objetos materiais; por outro trata-se de abordar o corpo humano. A noção de corpo físico deve ser distinguida da noção herdada pela tradição cartesiana e aristotélica. Quanto a análise do corpo humano ela parte dos resultados da analítica que limita o conhecimento humano àquilo que pode ser aprendido pelo sujeito do conhecimento através das formas a priori do espaço, do tempo e das categorias de entendimento. O problema da união da alma e do corpo e o problema da localização anatômica não tem resposta. Para Kant eles estão fora do conhecimento humano. Ao afastar os dogmatismos que consideram a alma e o corpo como seres em si, isto é, subtâncias, Kant não se pergunta como é possível a relação entre essas duas substâncias, a substância extensa (objeto ou corpo) e a substância pensante (sujeito ou alma). Ele quer saber como se dá para o sujeito do conhecimento as relações entre os dados do sentido externo (o espaço) e os dados do sentido interno (o tempo). É por meio do espaço que representamos os objetos fora de nós, assim como é por meio do tempo que temos a intuição de nós mesmos. O eu pensante é um objeto do sentido interno e se chama alma, o objeto do sentido externo se chama corpo. Vem daí que a heterogeneidade que existe entre corpo e alma não seja substancial, mas fenomenal. Como os corpos são fenômenos não podemos conhecer seu substrato inteligível, ou melhor, não podemos conhecer a coisa em si, a qual é objeto da metafísica.
Kant dessubstancializa a alma e o corpo. Se trata agora de investigar a síntese operada pelo sujeito do conhecimento das representações do espaço e do tempo. Resta que não tem sentido dizer que a alma possui sede no espaço, se alma não é nem extensa nem espacial, podemos compreender por que a filosofia critica qualquer hipótese concernente a sua localização.
A presença da alma em um órgão do corpo não é real ou local; ela é de ordem dinâmica e designa o lugar de uma atividade. O lugar do sujeito pensante no interior do mundo sensível é precisamente o espaço de seu corpo. É o próprio lugar no qual o homem tem um ponto de vista no interior do mundo sensível, o qual condiciona radicalmente as possibilidades de seus conhecimentos. Kant não rejeita a possibilidade de uma matéria em si fora do sujeito do conhecimento, porém, não podemos conhecê-la. Tanto a pretensão de conhecer algo material que não seja de modo fenomenal, quanto a hipótese da substancialidade da alma são desprovidas de interesse. A alma não pode ser conhecida como coisa em si, ela não pode ser reduzida a um objeto da experiência fenomenal. Para conhecer o corpo é preciso partir da experiência.
A filosofia Kantiana nos ensinou, que por um lado, temos o objeto do conhecimento, e por outro, o princípio desse conhecimento, o sujeito transcendental. Essa filosofia estabelece a existência de uma correlação que não pode ser quebrada entre o sujeito e o objeto do conhecimento; correlação que deixará marcas profundas na consideração daquilo que é o corpo. É verdade que o sujeito não é simples objeto, mas ele só pode apreender-se em meio aos objetos. Para que o sujeito possa se apreender é preciso que ele tenha um estatuto do objeto. Por um lado o sujeito da sentido a tudo, por outro, ele está no meio das coisas, ele é uma coisa. Essas duas faces do sujeito funcionam de modo paralelo. O sujeito seria portador de uma dupla caracterítica: ele é ao mesmo tempo empírico e transcendental.



CARDIM, Leandro Neves. Corpo. São Paulo: Globo, 2009 - (Coleção Filosofia Frente e Verso). Pg 47 a 50.



Naluah
(OBS: Com alguns cortes de repetições e outras palavras.)

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