As coisas imateriais me predem
nos prendem
nos prendem de um jeito que não nos desamarramos
nunca vamos nos desamarrar
me sinto assim
me sinto presa
tento mudar o pouco que posso perto de mim
pra ver se muda o que sinto
mas dentro segue o mesmo ruído
nada muda
ou muda
mas não permanece
nada permanece
isso me faz um bem,
e tão mal
o que muda me confunde de modo a querer mudar
o que permanece me afugenta de modo a querer mudar,
e me manda mudar de novo
cheia de ansiedades
de coisas que sigo correndo atrás
e corro delas,
me tapeio a cara podendo provar que posso uma reação firme
uma revolução imediata
que assim me torno menos leviana,
ou apenas mais densa na leviandade,
não sei de qual lado quero estar,
e sei que só um Deus é capaz de estar de todos, e de lado nenhum
também sei que não sou um,
então não sei o que espero,
o que me ressoa é mais uma realidade fútil e individual
uma lista de dúvidas com respostas que moram na linha do horizonte
daí me vem uma necessidade tão grande de voltar aquilo que lembra a mortalidade
aquilo tudo que me torna animal
tudo isso de instinto,
sair da toca e me jogar na imundice da rua
ser bixo, só bixo,
de me desvincular do antes e depois,
e minha sensação estranha de ser se torna merecida
só não posso ficar longe da arte
que dentro de mim é vil
me transtorna
me perturba
e não tenho paz,
que dentro de mim
ela me irrita
roga pragas
e gastrites
que dentro de mim se rebate de um lado pro outro
penso se fome
sede
sono
se isolamento
nada disso
tudo me sana depois de liberta a arte
me alimento
bebo,
me dou,
me acalmo
me reintegro
Se presa em mim ela não me dá sossego
e torna a me arrancar pedaçinhos
me deixar sem água
me provocar
me deixar de cama
me trancar no quarto
até que eu não destranque ela de mim.
Me maltrata e gosta da minha agonia
não me deixa tempo pra curtir marasmos
e eu enlouqueço se ela não vem me buscar
me tirar da sensação vazia do dia normal
minha máquina de trasmutação espiritual.
Naluah
(ânsia)