sexta-feira, 16 de abril de 2010

O prato


Quando vi pensava nos filhos. Eles de novo. Aqueles filhotes com bochechas gordas tentando palavras que eu não entendo. Não entendo a graça, a delicadeza daquela voz querida, e eu via meu rosto, escutava minha voz, feliz dizendo "Olha! Meu filho." Olhei pras minhas mãos e escutei o barulho do garfo riscando o prato, lambendo o fim do caldo de feijão. O garfo arranhando o prato me trouxe de volta ao restaurante. O garfo arranhando o prato me tirou do transe, e percebi que novamente eu estava adiante de agora gostando de imaginar. De repente me dei conta que entre 500 mesas aquela mesma que estava vazia ontem, me convenceu a sentar-me naquela cadeira, e na companhia de um pilar onde me escorava, no mesmo canto embarquei numa idéia que me faz rir a toa.
Naquele mesmo lugar eu o vi pai. Eu dizia "tu vai ser um bom pai", e pensava... daqueles que brinca, que explica mil vezes a mesma coisa, todo meio bobo e de vez em quando diz "vem cá meu filho" e dá um abraço de estralar os ossinhos.
Enfim fiquei meio parada naquilo. Mas percebendo o fato, minha atenção deixou de ser imáginaria e meus olhos correram por tudo que pude correr os olhos em minha volta. Vi um cara indeciso entre os pães e as mariolas. Olhei pro relógio e haviam passados apenas dez minutos. Minha cabeça almoçou aquilo tudo em dez minutos. Meus olhos correram de novo pelos objetos ali e enxerguei no meu prato: o pão.
Inclinei-me sobre o prato e rapidamente o devorei para que ele não mais me encomodasse. Queria ver o prato limpo. Quando enfim respirei... vi que eu olhava tudo por baixo dos ombros curvados, de braços abertos, estendidos na mesa, e deixei que minha cara descansasse no prato.


Naluah
(a fome.(assobiar e chupar manga))

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