domingo, 13 de dezembro de 2009

A centelha de uma eterna prosa

Delírios e fantasias vão se acumulando durante a vida, mas há quem lute pra tornar real. Às vezes as mães saem cedo pro trabalho, mas antes deixam a mesa arrumada pro café... uma caixa de leite com a ponta já cortada, a lata de nescau, o café, o açúcar, uma térmica com água quente, o presunto, o queijo, o pão fatiado, faca, colher, prato, xícara, copo e guardanapo ajeitadinhos sobre a mesa. Por vezes chegam a deixar bilhete na porta da geladeira, algo como "Meu filho, a mãe chega do trabalho só a noite. Deixei a mesa arrumada pra ti fazer teu café, e o almoço está arrumado na primeira prateleira da geladeira, é só esquentar. Beijos, Te amo." Perto do meio dia o tal filho acorda, e por algum motivo descabido, está de mau humor. Ele senta na poltrona à três passos da mesa olha a lata de nescau, o leite, o copo, e abre a boca pra gritar "Mãe! Faz meu café!", mas ele percebe o silêncio da casa e o bilhete na porta da geladeira. Ele sequer levanta pra ler o recado: a mãe foi de novo fazer hora extra de serviço no sábado. Ele continua sentado na poltrona, pega o controle remoto, liga a tv. Quando a fome aperta demais, ele faz o maior esforço do mundo, vai até a lata de café, abre, coloca 3 colherinhas de café na xícara, 5 de açúcar, pega a térmica, e derruba mais água sobre a toalha que na xícara. Como não está acostumado a fazer o próprio café, quase cospe o primeiro gole, de tão forte e amargo que fica, mas, empurra o líquido da xícara pra dentro do corpo e aborrecido volta pra cama. Perto das 7hrs da noite, morrendo de fome vai até a geladeira pra verificar o almoço, mas não quer comer feijão, arroz e bife, então vê sobre a geladeira, junto com a conta de luz, há um dinheiro. Encomenda uma pizza, mas enquanto a pizza não vem ele belisca o almoço frio, na geladeira. Quando o entregador chega com a pizza, ele busca o dinheiro da luz, paga, e vai comer assistindo um jogo qualquer do campeonato brasileiro de futebol. Ele consegue bagunçar toda a cozinha com tão poucos gestos. A noite a mãe chega cansada do trabalho, o filho reclama que o almoço estava ruim e teve que encomendar pizza, reclama que ela não esteve em casa pra fazer as coisas e por isso tudo ficou uma bagunça. E o filho continua, que nos finais de semana ela não lhe dá atenção, e aos poucos ela vai se recolhendo em culpa, até que exausta e cabisbaixa já nem presta atenção e vai lavar a louça, organizar a cozinha, enquanto o filho desliga a TV e vai para o quarto. Conseguem visualizar a cena? Bah! Só as mães sabem suportar seus filhos. Quando alguma mãe reclamar sem motivos, já devemos dar-lhe razão pelos muitas vezes que elas não reclamaram.
Não sei de quem é a frase que diz “céu e inferno somos nós”, mas ela basta pra entender o básico. Todo o problema vem de dentro do ser, e por mais que hajam meios externos para cobri-los de falsos remédios, que tapeiam e mascaram a cura, a própria cura vai permanecer sempre ali dentro, sentadinha, entediada, ao lado do mal que nos aflige, esperando que os olhos do ser problemático lhe dêem atenção.
Por que motivo alguém dispensa independência? Medo paralisante em assumir seus passos? Comodismo, sempre bem vindo, sob a proteção de alguém? Desinteresse em viver se não houver a certeza de ganhar sempre? Ter sempre alguém que vai se ralar no chão pra lhe servir um travesseiro quando estiver prestes a quebrar a cara? Viver escondendo as próprias responsabilidades no cestinho dos outros? Ah! Pára! Pára! Pára! Se não quer viver não encomoda quem quer! Viver é se ferrar, é correr risco, é encontrar cura pra todo mal. Comodismo não passa de puro egoísmo. Alguém paga pela comodidade de alguém. A vida é feita de experiências de erros e acertos, dos aprendizados que isso gera e que caminhos existem para melhorar ou piorar as coisas. Me entristece pessoas que não querem correr o menor risco.
Tudo na vida só depende da vontade própria e de como percebemos as coisas, para que possamos agir da maneira certa para construir o que queremos. Cada ser humano carrega sozinho seu bem, seu mal, sua inércia. Quem pensa que despejando em outras costas suas responsabilidades aliviam de peso, doce engano, só aumenta. Se esse filho criado com todo zelo, com 38 anos, não sabe compreender sua mãe, não consegue enxergar além do próprio umbigo, sequer fazer café...e nem nunca sentiu como é viver por conta própria... pra quê 38 anos?


Naluah
(A vida é tudo, todos os dias. A vida é plena responsabilidade. A vida, todos os dias, é plena responsabilidade com tudo.(Tem tanto, mas tanto pra falar em cada fim de frase, que ia ser uma postagem sem fim...))

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Não lembro.

Um dia, depois o seguinte, desperta mais uma vez consciente do sono, ainda dormindo, e percebe que o choro do sonho está ali deitado na cama em soluços e gemidos reais sem grandes controles. Sensação estranha. Ao acordar não lembro de nada.
A conversa de hoje trouxe de novo aquela confusão dos mundos. Controlar. Será que fechando o pensamento num foco as coisas tendem a se exclarecer melhor? Será que no foco se perdem em cegueira as verdadeiras verdades?
Veio um pressentimento sobre ele, os olhos dele... no fundo do olhar algo escondido. Medo de haver um preconceito ou uma incompetência de pressentimento se vestindo de intuíção, e da defesa sair de um fundo de ataque.
Fiquei perplexa ao ouvir, não que não acredite, mas, aquela energia chegou altamente negativa. Tomar cuidado com as palavras, todas elas, faladas e ouvidas. O que existe por trás das palavras são sentimentos tão fortes revestidos de sutileza. Afetam-se umas às outras. O mundo pareceu uma verdadeira maldição agora a noite.
Me perguntei de novo aonde é que eu penso que eu vivo? Os mundos dentro dos mundos... que coisa doentia e real e maluca. Estou atraindo problemas. Foi aí que tive as dúvidas... Ele sabia algo de mim. Por que veio falar sobre? Sabia que não seria ignorado? Ele sentiu que sabia, e eu senti.
Mas eu queria saber o quanto sei pra ter certeza que posso confiar no pouco que sinto.
Fui afetada, só isso. E eu ando caindo de pára-quedas nas intrigas da vida.

Naluah
(Aprender a desfocar.)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tosse seca.

Um homem anda por entre as àrvores carregando um pano vermelho nas mãos. Aonde agora não há árvores fazendo sombra, a grama reluz um verde mais vivo. O vento bate forte nas coisas por onde anda, inclusive em mim. Acordei com a garganta arranhando, não sei por qual motivo. Me desconcentrei no meu mundo e o homem sumiu. A folha do meu caderno se retorce com o vento e minha garganta vai piorar. Mas esse vento me trás paz. Paciência. As pessoas caminham bem ao longe, não vem que estou olhando pra elas em seus risos e agitos. Um senhor de cabeça branca vem passando com seu cachoro atado à coleira, olha pra alguma coisa em sua mão e desconfio haver conferido as horas. As horas continuam controlando tudo, e uma mosca não se cansa de ser tocada pra longe quando sinto o seu caminhar na minha pele. Fazia tempos desejava eu, as árvores, o vento. Meia hora passou, a fixa caiu! E a verdade é que saí correndo pra embarcar no ônibus e passei a fixa adiante. E da janela vi pessoas de aventais brancos caminhando por entre as árvores. E eram os loucos do hospital.




Naluah
(só)
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